quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Crônicas incompletas I

O cansaço, a tensão na musculatura rígida da nuca, e o cigarro não terminado no cinzeiro sobre o piano, não diziam nada sobre o que se passara na noite anterior, uma breve melancolia gostosa acompanhava a cabeça dolorida da ressaca, mas não havia o que fazer, o Sol já encontrava-se a pino e as frestas na janela não conseguiam mais reter a luminosidade. Que pena, pensara, como a solidão acompanha tantas vezes o amanhecer. O telefone tocava, mas não conseguia lhe desviar a atenção de seus devaneios, sabia que esse descaso ao toque insistente lhe traria problemas tardios. Deveria estar com o pequeno as 12:00 na casa da avó, o rito anual do almoço familiar no Domingo de Páscoa seguia uma rigidez iquestionável, e lhe fora atribuída justamente a função de buscar o garoto no acampamento de férias e levá-lo para a casa da ex-sogra. Uma tarefa que ele não fazia a menor questão de cumprir naquele dia, não pelo garoto, claro, que fora sua única inspiração e motivo durante diversos anos, mas pela tarefa em si, não se imaginava indo ao encontro daquela celebração e pessoas que nada lhe significavam, e acreditava que até mesmo para o garoto aquilo tudo seria desnecessario.

Nenhum comentário:

Postar um comentário