quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Helene

Tu és a luz da Lua
Que em minhas noites vazias
Trouxe os sonhos mais belos

Me surpreendendo a cada instante
me acariciando, se mostrando
com seus gestos tão singelos

Fez meu mundo se tornar único
trazendo-me o amor sempre almejado
e que após ve-lá com seus dedinhos fechados
pude enfim, senti-lo...pude enfim tocá-lo

Sua beleza é tanta que não há campos que não se curvem
não há flores que não se enciumem
e não há paz que não se alcance.

Somente você, filinha querida, poderia ser tão grande aos meus olhos
que se enchem de lágrimas a cada nova descoberta
e que descansam serenos todas as noites
com a certeza de você iluminará a escridão fria dos céus.

Entre nós

Entre nós há um vazio
tão preenchido de coisas belas,
que mal cabem bolhas de sabão
Entre nós há um infinito de nostalgias
que se repetem e que se renovam
Entre nós há uma imensidão de amores, fúteis, sérios,
obsenos, divinos
Entre nós não falta nada e tudo acaba antes de começar
Entre nós a cumplicidade se fideliza
e a lealdade é traída
Entre nós não pode haver ódio,
e as pequenas diferenças geram discórdia
Entre nós, o eu, e o você, se bastam.

Desejo (Carlos Drummond Andrade)

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.

Crônicas incompletas I

O cansaço, a tensão na musculatura rígida da nuca, e o cigarro não terminado no cinzeiro sobre o piano, não diziam nada sobre o que se passara na noite anterior, uma breve melancolia gostosa acompanhava a cabeça dolorida da ressaca, mas não havia o que fazer, o Sol já encontrava-se a pino e as frestas na janela não conseguiam mais reter a luminosidade. Que pena, pensara, como a solidão acompanha tantas vezes o amanhecer. O telefone tocava, mas não conseguia lhe desviar a atenção de seus devaneios, sabia que esse descaso ao toque insistente lhe traria problemas tardios. Deveria estar com o pequeno as 12:00 na casa da avó, o rito anual do almoço familiar no Domingo de Páscoa seguia uma rigidez iquestionável, e lhe fora atribuída justamente a função de buscar o garoto no acampamento de férias e levá-lo para a casa da ex-sogra. Uma tarefa que ele não fazia a menor questão de cumprir naquele dia, não pelo garoto, claro, que fora sua única inspiração e motivo durante diversos anos, mas pela tarefa em si, não se imaginava indo ao encontro daquela celebração e pessoas que nada lhe significavam, e acreditava que até mesmo para o garoto aquilo tudo seria desnecessario.

Simples

Hoje queria amar como Água para Chocolate.
Sentir cheirinho de Canela, gostinho de Gengibre, tempero de Noz-Moscada.
Queria deitar num colção estirado no chão, coberto com colcha de retalho
quadriculada de azul, vermelho, amarelo,
e lá permanecer quieta a ninar,
aquele que enche e preenche,
e murmura Stan Getz junto ao colo suado,
desafinadinho!

Ïndia Mãe

Se eu fosse uma índia
seria morena
Beberia água da lagoa
Teria cabelos lisos
seria livre.
Seria Natural
Seria diferente, e
seria mãe
Uma mãe livre,
de cabelos lisos
e morena.

Flores

De flores fez-se meu mundo,
Lírios, azaléias, orquideas,
até mesmo os crisântemos...
e todos os outros da família Compositae,
Ai os crisântemos, pobrezinhos,
condenados a celebrar a morte,
antes fossem redimidos,
e quem sabe consagrados a serem então recebidos
pelas mãos suaves da amada,
E se as rosas fossem então abandonadas,
e simplismente esquecidas,
de certo não haveria a paixão,
pois o olfato dos amantes jamais encontraria
um perfurme tão enebriante como o da rainha das flores.
Ai flores que preenchem meus dias,
a cada momento as suas pétalas, sépalas, receptáculos embelezam o mundo.
Nos fazendo esquecer o que é feio,
nos fazendo dispensar a dor.